Dr. Luiz Duplat escreve: Regulação e Plano de Governo nas Eleições 2022 na Bahia

0
Compartilhe:

Neste final de semana fiz uma avaliação das propostas de governo para o setor da saúde dos seis candidatos a governador do nosso estado da Bahia, nas eleições deste ano.

Não fiquei surpreso com o número de vezes que a palavra SAÚDE aparece nos documentos, que estão disponíveis no site do TSE –Tribunal Superior Eleitoral. São 360 vezes, em um conjunto de 435 páginas.


Também, não fiquei surpreso com as mesmices de propostas de eleições anteriores, sempre com o uso abusivo de verbos no infinitivo: implantar, expandir, fortalecer, incrementar, criar, estruturar, ampliar etc. 


Os planos de governo não mostram de que forma e com qual recurso os candidatos cumprirão suas promessas. Então estes planos registrados no TSE, possuem características cartoriais, para atender as exigências da lei eleitoral.


Mas, o Plano de Governo do candidato ACM Neto, do partido União Brasil, traz algumas novidades, na medida em que esboça a forma de executar as suas propostas. Ele identifica como um dos grandes problemas da saúde na Bahia, a REGULAÇÃO, e apresenta dois desafios a serem vencidos:


 “1. Solucionar o encaminhamento desordenado de ambulâncias do interior para a capital em função da ausência de atendimento adequado na região. 2. Reestruturar a Regulação pautando sua gestão por um processo de trabalho profissional e resolutivo em detrimento de sua politização e ineficiência.


”Pedidos de ajuda para regular um paciente, que se encontra em uma UPA ou em um Hospital do interior ou mesmo de Salvador, realizados de forma desesperada por familiares e amigos, em programas de rádio e televisão, assim como através de redes sociais, já se tornou comum no nosso dia a dia, inclusive nos grupos de WhatsApp formado por profissionais e gestores da saúde dos municípios, o que aponta para a ineficiência e não acreditação no processo da Regulação no estado da Bahia.


A lógica da Regulação que é colocar o paciente no leito adequado e no tempo oportuno, não vem sendo respeitada na Bahia, e a fila da Regulação se tornou na principal queixa da população baiana. O documento de ACM Neto, aponta ainda alguns nós críticos na Regulação, que precisam ser desfeitos. 


Atualmente a Regulação não acompanha o desfecho do caso, falta monitoramento e protocolos clínicos, assim como informações atualizadas e transparentes para os familiares dos pacientes; A falha de comunicação entre os profissionais da Regulação com os profissionais das Unidades de origem e destino do paciente; Hoje a Regulação cadastra os relatórios médicos num sistema associando a cada paciente um número numa fila de espera indefinida e desconhecida; A existência de politização, em detrimento do uso exclusivo de critérios clínicos; A falta de uma supervisão, in loco, nas Unidades da rede de assistência, por parte dos gestores da Regulação, inclusive para acabar com a distorção e disputa entre o médico regulador e o médico da unidade que possui leito disponível; Uma Regulação descentralizada e regionalizada é necessária, assim como a utilização eficaz da tecnologia, já existente, do monitoramento em tempo real dos leitos disponíveis; Hoje na Regulação não existe o compromisso de respostas imediatas ao pedido de socorro à vida.


É imperativo que a procura por recursos, e dentre eles os leitos, seja de forma contínua em toda a rede estadual, municipal, filantrópica e privada, inclusive nas Policlínicas para realização de exames e avaliações especializadas ambulatoriais.


Outro ponto importante que o Plano de Governo de ACM Neto traz, é o retorno da “PORTA ABERTA PARA O SAMU”. Na Bahia foi implantada esta prática que impede dos socorristas que atendem chamados nas ruas de se dirigirem para a unidade hospitalar de emergência mais próxima sem, antes, perguntar se podem ser atendidos. 


As portas foram fechadas por falta de médicos, leitos e às vezes até de maca. Ambulâncias do SAMU com pacientes, nos pátios das emergências já se tornou uma rotina. Reabrir as portas das emergências para o SAMU será mais um desafio a ser vencido pelo próximo governador da Bahia.


Veja, caro leitor, que são propostas factíveis, principalmente que não vão precisar de volumosos investimentos financeiros nem de obras estruturantes, apenas adequação de processos de trabalho, de vontade e determinação política do gestor estadual para mudar a Regulação na Bahia.


Luiz Duplat é médico obstetra, especialista em saúde da família e subsecretário de saúde de Camaçari

Compartilhe:

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui